Ciop vai firmar parceria com Ministério Público para inibir os trotes

Os trotes representam mais de 80% das ligações que chegam ao Centro Integrado de Operações Policiais (Ciop) através dos números 190 e 193. De cada dez chamadas feitas ao Corpo de Bombeiros, apenas uma é por real necessidade de socorro. As ocorrências que chegam à Polícia Militar mostram uma situação parecida. De acordo com comandante do Ciop, major Valtania, o Centro vai firmar parceria com o Ministério Público Estadual para inibir os registros de falsas ocorrências. Ela lembra que o trote é crime e deve ser combatido com o rigor da lei. “Já fizemos palestras em escolas, usamos teatros de fantoches, alertamos pais e crianças sobre a gravidade do trote. Agora, teremos que agir com uma ação repreensiva”, destacou.

De cada cem solicitações de ajuda, apenas 13 são verdadeiras. O problema cresceu tanto que a Polícia Militar procurou ajuda do Ministério Público Estadual para punir os infratores. Acionar os serviços de emergência sem necessidade é crime com pena que pode chegar até seis anos de prisão.

De 1º de janeiro a 23 de março deste ano, o Ciop recebeu 170.731 ligações. São quase 2.100 ligações por dia. Maioria delas, 87%, é direcionada para a Polícia Militar. Só entre os primeiros 82 dias de 2010, a corporação recebeu 147.741 chamados. Além da quantidade, o que mais impressiona é a estatística de trotes. As falsas ocorrências somam 127.056 registros. Isso representa 86% do total dos telefonemas recebidos.

Com o Corpo de Bombeiros, o drama é ainda pior. O número 193 da instituição foi acionado 22.909 vezes entre janeiro e 23 de março deste ano. No entanto, apenas quase 10% dos pedidos de socorro, ou seja, 2.324, vieram de pessoas que estavam realmente precisando de ajuda. As demais foram trotes

A comandante do Ciop, major Valtania Ferreira da Silva, observa que o trote causa despesas desnecessárias, deslocamento de viaturas e de policias, estresse e desgaste emocional à-toa. Mas o principal prejuízo da “brincadeira sem graça” é a perda da vida de alguém.

“Isso é uma brincadeira de mau gosto. Para atender a um chamado, precisamos enviar as viaturas. Em alguns casos, até quatro delas, como ocorreu recentemente com um alarme falso que recebemos sobre um tiroteio em colégio. Isso faz com que algumas áreas da cidade fiquem descobertas. Se uma pessoa precisar de ajuda nesse momento, poderá não receber socorro imediato porque as viaturas estão atendendo a uma falsa emergência”, afirma a oficial.

Os trotes mais comuns são de pessoas que fazem falsas denúncias aos atendentes do Ciop. “São assaltos em andamento. Tiroteios que não existem. Tem até mulheres que simulam entrar em trabalho de parto. Uma delas chegou ao ponto de gritar e chorar por telefone. O atendente deu as primeiras orientações e enviou a ambulância. Quando a equipe chegou ao local, descobriu que se tratava de um trote”, comenta a major.

Para não cair nos golpes, os policiais que recebem as ligações no Ciop gastam mais tempo para conferir as informações. Dados como nome completo, endereço e relato detalhado da situação passaram a ser solicitados pelos atendentes ao telefone. O problema é que isso demanda mais tempo e deixa a linha ocupada.

“As pessoas precisam entender que enquanto as unidades atendem a uma falsa ocorrência, podem deixar de socorrer a quem realmente vier a precisar do socorro. Quem aplica esse golpe esquece que ela mesma pode precisar da polícia ou dos bombeiros e ficar sem atendimento porque as equipes estão atendendo a uma falsa ocorrência” lamenta a comandante.

Quem aciona indevidamente o serviço público de emergência corre o risco de pegar de um a seis anos de detenção. A pena está prevista no artigo 340 do Código Penal Brasileiro. Na melhor da hipótese, se o infrator não for preso, poderá ser obrigado a pagar multa. Porém, o advogado Marcos Pires destaca que a pena pode ser muito maior porque o trote não envolve apenas um crime. Ele explica que a falsa ocorrência, geralmente, é feita por um grupo de amigos e, nesse caso, já se configura formação de quadrilha. “O trote também prejudica a saúde pública e paz que são preservadas pelo Código Penal”, ressalta.

Para o advogado, a falta efetiva do castigo é um dos responsáveis pelo alto índice de trotes nos serviços públicos essenciais como os de urgência e emergência. “Para que se diminuam os trotes, é preciso enquadrar quem os pratica. Esses crimes devem ser julgados para servir de exemplo”, afirma.

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